sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Cursos livres e a liberdade de informação na blogosfera



Alberto Perdigão - jornalista, editor do Blog da Dilma, participante do 1º Encontro Mundial de Blogueiros - E-mail: http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=8234920264562272789&postID=449107747707220412 - Twitter: @FalaPerdigao
“Blog já tem demais, o desafio agora é melhorar os conteúdos.” A frase, do colega jornalista e ativista do movimento dos blogueiros chamados progressistas Altamiro Borges, foi dita com a merecida ênfase, durante o Encontro de Blogueiros e Mídias Socias do Ceará, realizado em Fortaleza, em maio passado. Cinco meses depois, portanto, do Encontro Mundial de Blogueiros que acontece desde ontem (27/10), em Foz do Iguaçu (PR), com cerca de 500 brasileiros e estrangeiros preocupados com democratização da comunicação.

Outros palestrantes convidados pelo Instituto Barão de Itararé seguiram Miro naquela ocasião, e particularmente fiquei animado em saber que tinha mais gente pensando como eu. O tema esteve presente nos encontros realizados pelo movimento em mais de mais de 20 estados, antecedendo o congresso de Brasília. Mas o discurso ainda não encontrou a prática da militância, que cresce e se solidifica em todo o país e em todas as classes sociais, unida que está pelo desafio maior de democratizar os meios de comunicação.
Um desafio tem tudo a ver com o outro. Blogs podem sim ser instrumentos de informação e conscientização, de formação de opinião e de atitudes. A blogosfera deve, sim, ser uma novíssima esfera pública para problematizar, argumentar, elaborar consensos e deliberar, um ambiente de informação e expressão com capilaridade e conectividade que não se encontrarão jamais nos meios tradicionais e massivos.
Para construir este ambiente político por essência, é preciso primeiro ir na base – que, aliás, é o que sustenta qualquer construção. É necessário promover a formação básica em jornalismo da nossa militância para a prática do jornalismo cidadão. Cursos livres podem ser um bom caminho. Porque não basta informar, tem que informar bem, entendendo informação e expressão como complementos de um diálogo possível, o papel social do jornalista e o alcance político de uma notícia. Vou tentar argumentar um pouco sobre isso.
O Curso Livre passou a integrar a Educação Profissional, como Educação Profissional de Nível Básico, após a Lei nº 9.394 - Diretrizes e Bases da Educação Nacional. É a modalidade de educação não-formal de duração variável, destinada a proporcionar ao trabalhador conhecimentos que lhe permitam a reprofissionalizção, a qualificar ou a atualização para o trabalho. É simples, é fácil, é barato.
Este tipo de curso não é regulamentado, autorizado ou reconhecido pelo MEC ou por qualquer outro organismo público de educação, sendo livre sua oferta e sua organização, bem como a emissão de certificados. A entidade promotora do curso livre pode ser pessoa jurídica - escola ou não - ou pessoa física, que fica sujeita, então, ao reconhecido simbólico da sociedade e/ou do mercado.
Em cursos livres não é exigida do aluno escolaridade anterior, embora possam haver critérios de escolaridade para a seleção do interessado por parte da promotora; podem oferecer profissionalização rápida para variadas áreas de atuação no mercado de trabalho, dispensando a obrigatoriedade de seguir uma formação mais longa ou de nível superior (ex: informática, atendimento, secretariado, webdesign, webjornalismo).
Jornalismo cidadão é a mais nova modalidade de jornalismo que, apoiada no caráter pós-massivo da internet, inverte a lógica unívoca e autoritária do jornalismo praticado pelos meios de comunicação de massa tradicionais. No jornalismo cidadão é o leitor/telespectador/ouvinte – ou grupos deles - quem define o conteúdo informativo (pauta), quem o produz (notícia) e quem o distribui (veicula) de forma livre, aberta e gratuita.
Notadamente nas regiões mais ricas do planeta, com banda larga acessível e letramento digital favorável ao fortalecimento da “sociedade do conhecimento”, jornais, emissoras de TV e estações de rádio colaborativas captam e socializam conteúdos jornalísticos com amplidão de cobertura nunca antes alcançada pelas mídias tradicionais, e utilizando sites com número de acessos recorde e crescente a cada dia.
O exemplo serve também para regiões mais pobres, com alto o nível de exclusão digital, social e política, as quais podem usar blogs, de código aberto, que apresentam semelhante grau de utilidade e melhor nível de usabilidade. Podem, assim, substituir o jornal, que poucos podem comprar ou ler; às televisões, que não se pautam pelo interesse do território; e às rádios, sem condição financeira ou política para fazer o bom jornalismo.
Neste contexto, faz-se oportuno que a sociedade organizada, governos e organizações do terceiro setor interessados na democratização dos meios de comunicação se mobilizem, no sentido de oferecer cursos livres de formação básica de jornalismo para cidadãos que atuam como blogueiros, prestando assim um serviço de alta relevância política e de grande alcance social nos territórios e para toda a blogosfera.
Afinal, cidadãos comuns podem usar as redes sociais como meios livres para a circulação da informação e do poder, como canais de contra-informação e de contrapoder, para se conectar e se inserir, para decidir e protagonizar em rede, para se fortalecer na cidadania ativa e na democracia participativa. Afinal, o avanço da tecnologia da informação e comunicação deve servir também a um avanço político e ao desenvolvimento das pessoas.

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