O último debate do 1° Encontro Mundial de Blogueiros explorou o tema da  regulamentação dos meios de comunicação na América do Sul e a luta por  liberdade de expressão. Sem a presença do ministro das Comunicações  Paulo Bernardo,  a mesa foi composta por Damian Loreti, membro da  comissão que elaborou o projeto da Ley de Medios na Argentina; Blanca  Josales, secretária de redes sociais do governo do Peru e Jesse Chacón,  ex-ministro das Comunicações na Venezuela. Os palestrantes discutiram os  contextos da comunicação em seus países e as perspectivas de  consolidação da democracia a partir da desconcentração de poder na  comunicação.
 Loreti ressaltou que a vitória da regulamentação dos meios na Argentina  teve uma forte participação da sociedade civil. “Houve uma grande  demanda da população para que essa lei fosse construída e aprovada.  Foram mais de 15 anos para elaborarmos e conquistarmos a democratização  dos meios”. Segundo Loreti, a Ley de Medios argentina foi construída com  consensos na sociedade e diálogo com o governo.
 Dentre as mudanças trazidas pela regulamentação, destaca-se a  desmonopolização: o atual limite de licenças para exploração dos  serviços audiovisuais é de 24. Cada empresa poderá ter dez concessões em  TV aberta ou a cabo, no máximo. Durante a exposição, Loreti mostrou o  documento Radiodifusión democrática – 21 Puntos Por El Derecho a La  Comunicación, criado em 2004, que fundamenta o projeto de lei dos meios  aprovado.
 Sobre a defasagem do Brasil em relação aos outros países sulamericanos,  nesse processo de democratização, Chacón salienta que trata-se de uma  atitude firme e urgente. Para ele, “é questão de o governo querer bancar  esse custo político ou não”. Chacón e Loreti criticaram o argumento da  grande imprensa – e predominante nas empresas de jornalismo brasileiras –  de que regulamentar a mídia é censurá-la. “Essa é uma interpretação  completamente distorcida da lei de meios. Estabelecer parâmetros  democráticos e que garantam liberdade de expressão não pode ser chamado  de censura”, diz Loreti.
 Chacón apresentou um trabalho sobre as políticas da Venezuela quanto à  comunicação e Internet, colocando em questão ideia de descentralização  do poder na rede. “As redes sociais são plataforma para o dissenso e  para a revolução? O Facebook tirou do ar uma convocatória de mobilização  estudantil que lutava contra a privatização da educação”. Para Chacón,  “atrás de toda a arquitetura informacional, há uma estrutura de poder”.  Ele ressalta que revolução tecnológica e informacional não é revolução  social e aprofunda a exploração, a exclusão e a dependência.
 O ex-ministro das Comunicações venezuelano ainda comentou que a  experiência que teve em seu país mostra o papel dos movimentos sociais e  do governo na gestão das redes. “A Internet deve ser uma grande  biblioteca para troca de vivências e conhecimentos”.
 A peruana Blanca Josales, por sua vez, lembrou de um tema pouco abordado  no Encontro Mundial de Blogueiros: o uso político e eleitoral das  mídias sociais. Segundo ela, a campanha do presidente Ollanta Humala,  então candidato, investiu na comunicação via redes sociais e estabeleceu  contato direto com os eleitores. “Apesar da vitória na eleição, é  preciso pensar no uso desses canais de comunicação durante o governo  também”, afirma.
 Ela aproveitou para anunciar o Encontro Latino-Americano de  Comunicadores Digitais, a acontecer em julho de 2012, em Lima, no Peru. O  evento deverá ter organização do Barão de Itararé e da Altercom.
 O debate encerrou o ciclo de painéis do evento, contribuindo e  subsidiando a discussão da regulamentação dos meios no Brasil. Além  disso, foi possível conhecer experiências de países vizinhos, que  compartilham a concentração e o monopólio, mas que deram um passo  adiante na democratização da comunicação.
Barão de Itararé
 
 
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